Florestas urbanas – Conhecer e Conservar

Hoje, 27 de maio, é comemorado o dia da Mata Atlântica, vamos compartilhar com vocês uma crônica ambiental de autoria do biólogo, pesquisador e escritor Ricardo Braga. A crônica foi publicada no livro Ecologia do Cotidiano (Cepe Editora, 2014).

Florestas Urbanas Conhecer para Conservar

A Mata Atlântica nordestina é a mais ameaçada do Brasil. A sua distribuição no passado deu origem ao nome de uma enorme região úmida e verde, chamada Zona da Mata. Isso porque as condições de solo e clima resultaram na formação florestal que marcou a paisagem, a dinâmica hidrológica, os ciclos biológicos e o próprio processo de ocupação socioeconômica, do qual terminou sendo vítima.

Na mudança da paisagem natural por espaços construídos, a floresta perdeu a sua hegemonia, geográfica e funcional, submetendo-se às pressões da cidade, em conflitos sucessivos com bairros consolidados e invasões de periferia.

Neste embate, na maioria das vezes silencioso, os maciços florestais transformaram-se em fragmentos. As espécies madeireiras escassearam ou sumiram, e os animais de maior porte perderam a condição de sobrevivência, seja pela caça, seja pelo exíguo território que não os permitia perambular em busca de alimento ou de procriação.

Os grandes maciços florestais transformaram-se em um plasma de bairros residenciais, vias, comércios, indústrias e resíduos, ou, em raras exceções, em florestas urbanas, ilhas de vegetação nativa.

Qual o destino dessas florestas remanescentes? O que elas têm a ver com a cidade que as engole, às vezes sem perceber, consumindo-as para depois ocupar o seu solo? O que restará da sapucaia, angelim e camaçari, ou do sabiá, saíra e sanhaçu? Isso para não falar das espécies já ameaçadas de extinção.

Em uma visão de futuro, só enxergo dois destinos: o desaparecimento desses fragmentos, substituídos por mais cimento, gente, esgoto, lixo e impermeabilização do solo; ou a inserção dessas preciosidades despercebidas na realidade da metrópole, tornando-as florestas visíveis aos moradores do entorno e desfrutadas pelas comunidades.

Acredito no diálogo entre a floresta e a sua vizinhança urbana, em decorrência da necessidade sentida pela população, de espaços para lazer e educação dos jovens e crianças vindos das escolas e dos bairros, do convívio com a natureza e até de um turismo local, que tenha o olhar na diversidade de formas, cores e espécies da mata tropical.

Acredito no exercício da sensibilidade humana diante do som do silêncio, do piado de uma ave ou das brincadeiras de sagüis; no saudável caminhar do homem urbano em trilhas na floresta, em que ele pare diante de sinais da natureza, para que passem carreiras de formigas ou simplesmente para observar uma toca de tatu, sem querer persegui-lo para matar.

Mas, para sobreviver, as florestas urbanas não podem estar em redomas fechadas, mesmo porque nunca estiveram. Precisam ser vistas, se oferecer à interação com seus vizinhos humanos, que ainda não estão culturalmente acostumados a enxergá-las. É preciso apostar no diálogo entre a floresta e o homem, ambos urbanos e natureza. Como fazer é que é o desafio.

Ricardo Braga

Ecologia do Cotidiano, Cepe, 2014.

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